Perpetual Legacy arrisca transpor Bíblia para o metal sinfônico e colhe acertos
“Teodrama”, novo álbum de estúdio do Perpetual Legacy (Brasília/DF), foi concebido com uma missão pra lá de difícil: utilizar a Bíblia como pano de fundo para uma história conceitual sobre os mais variados arcos cristãos. Tudo isso seguindo as escrituras do metal sinfônico.
Para complicar ainda mais, Michelle Braglia (vocalista), Lucas Fernandes (guitarrista), Matheus Maia (baixista e tecladista), Rafael Lobo (pianista e tecladista) e Renan Costa (baterista) não economizaram na quantidade. O resultado foi um disco duplo, com altos e baixos, mas que deixa um sorriso no rosto de quem curte o estilo.
O grande acerto de “Teodrama” foi se valer da melhor maneira dos trejeitos de suas influências – ainda que inconscientemente talvez. Na primeira metade da audição, músicas como “Glorious Creator” lembram os tempos gloriosos de Xandria e Edenbridge, com os vibratos de Michelle mostrando as garras. “Before Creation” já segue a linha mais Visions of Atlantis, com a voz masculina de Matheus complementando o arranjo.
A dinâmica entre os dois vocalistas podia ser melhor explorada ao longo do disco, com mais espaço para o jogo “Bela e a Fera”. Quando se arma de sua voz limpa, Matheus se dá mais bem, mas não que seja preciso desprezar completamente o gutural.
Alguns respiros no tracklist foram utilizados para dar mais dinamismo no longuíssimo tracklist. “Grace”, por exemplo, é uma balada em que a distorção passa longe. Já “Imago Dei” faz lembrar uma canção natalina no começo e desemboca numa versão cristã de “Cry For The Moon” do Epica.
Outro acerto de “Teodrama” aparece sempre que a banda decide abusar dos coros como uma espécie de contraponto melódico à voz de Michelle. Já quem gosta de solos de guitarra e teclado, pode terminar as duas dezenas de músicas com o gostinho de “quero mais”. A enérgica “In the Cool of the Day”, com seu lado mais sombrio, é uma que caberia mais ataques das seis cordas.
“All Have Sinned” traz o elemento progressivo para o primeiro plano, com uma possível influência de After Forever e Symphony X e “Look at the Cross”, com versos em português, mostra que nossa língua cai muito bem, obrigado, no metal sinfônico.
O segundo disco começa com “The Mediator”, traçando bem a linha onde termina um lado e começa o outro. Na sequência, “Redemption” é a hora de Matheus brilhar no baixo e de quebra ainda tem espaço para um dos melhores refrãos do disco. A ideia de pequenas ilhas de surpresa surge de novo com “Justified By Faith”, que utiliza o recurso de iniciar de forma mais lenta e ir pegando no tranco.
A ousadia de “Teodrama” justifica a audição e, apesar de muito metaleiro fugir da temática cristã igual vampiro da cruz, quem decidir ouvir com atenção pode se conectar com essas mensagens. Ou então também dá para ouvir mais pelo som do que pela letra. E está tudo bem. O Perpetual Legacy mostra com mais esse lançamento, por fim, como colocar no liquidificador diversas influências e ainda assim conseguir, com um tempero particular, soar original e despertar a curiosidade de quem ouve.